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Mari Onete: a boneca que assina, mas não lê.

  • Foto do escritor: Gabriella de Souza e Souza
    Gabriella de Souza e Souza
  • 13 de ago. de 2021
  • 3 min de leitura

E se a peça do espetáculo for você?






A presença dos meios de comunicação e a forma como eles determinam os comportamentos é de longa data. Mesmo antes da televisão ganhar seu tempo de glória, as mídias audíveis faziam este papel de reunir famílias durante a noite em torno de rádios, consumirem radionovelas e artigos publicitários. Desde que os meios de comunicação existem, a forma encontrada de reunir pessoas em torno de um assunto específico foi a dramatização. Construir histórias com enredos reais, fazia com que as pessoas se sentissem representadas de alguma forma. Esse sentimento foi o que promoveu o sucesso das histórias vividas, mesmo que de forma fictícia.


O storytelling, de pronto, foi um grande sucesso para as empresas que utilizavam as mídias como uma forma de aumentar seus rendimentos. Com o passar do tempo, os avanços foram significativos. A tecnologia permitiu que as mídias avançassem e que as empresas pudessem se promover por diferentes veículos. Nessa história a única coisa que não mudou tanto quanto a tecnologia foi a essência do ser humano. Suas dores, suas questões, seus medos, todas as questões trazidas são, de alguma forma, as mesmas. Mesmo que adaptadas ao tempo, as histórias se mantinham e, à medida que as histórias se mantinham, os meios de espetacularização também se perpetuavam. Só que agora, não mais restritas às noites, as tecnologias imperam vinte e quatro horas por dia.


De certa forma, foi saber lidar com os aspectos psicológicos dos indivíduos que deu sentido para a espetacularização dos corpos. Atualmente, assim como era há décadas, as pessoas ainda querem se sentir representadas em suas questões e, por isso, gostam de assistir a personagens como se vissem a sua própria imagem. Não é à toa que as histórias ainda causam grandes sentimentos, sejam eles: amor, ódio, indignação, desejo, tristeza, ambição, entre outros. Enquanto essas sensações forem os motores mais potentes do homem, a espetacularização será uma arma poderosa das grandes mídias.


No entanto, atravessar esses momentos de avanços tecnológicos deu à mídia o grande poder de ter em suas mãos os fantoches da sua atração. Da mesma forma que somos parte, também somos o todo deste movimento. Somos quem se deixa levar pelos sentimentos, somos quem assiste enquanto queremos ser quem assistimos, somos quem atende aos apelos de venda das empresas, somos o combustível que movimenta essa engrenagem e, assim como Truman Burbank, vivemos no nosso próprio show, sem saber que somos o ponto central da peça.


A possibilidade de sair desta cadeia de espetáculos é mínima. As tecnologias amarraram nossas condições de vida a elas de forma que é quase impossível se transformar em alguém apático ao seu avanço. A facilidade e rapidez que ela promove no dia-a-dia são tão sedutoras a ponto de ser mais fácil se tornar refém delas do que se colocar em posição de confronto.


A sociedade atual tem uma bússola que aponta para a tecnologia a qualquer custo. Ao aceitar que nos convertam em marionetes deste espetáculo, nos tornamos personagens de um jogo sem, ao menos, ter lido os termos de adesão para participar desta história.


REFERÊNCIAS DEBORD, Guy. A separação consolidada In: A sociedade do espetáculo. Projeto Periferia. (e-book) - capítulo 1 (p. 13 – 27)

O SHOW de Truman. Direção: Peter Weir. Produção: Andrew Niccol e Scott Rudin. Intérpretes: Jim Carrey, Ed Harris, Natascha McElhone e outros. Música: Philip Glass. Los Angeles: Universal Pictures, 1998.


APAREÇO, Logo Existo: O mundo das aparências por Bauman, Nietzsche e Shakespeare. Portal Geledés, 2017. Disponível em: https://www.geledes.org.br/apareco-logo-existo-o-mundo-das-aparencias-por-bauman-nietzsche-e-shakespeare/. Acesso em: 11 de Ago. de 2021

 
 
 

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